Um dia que valeu por 15 anos de espera



Há certas coisas que acontecem na vida da gente, que nos fazem esquecer de tudo e voltar à infância e à adolescência, dando aquele rejuvenescimento, aquela revigorada - eu diria, aquele novo nascimento. Uma dessas coisas aconteceu comigo no último domingo (12/01/2020).
Antes de falar sobre, quero contar um pouco a respeito de como eu era na praia, quando criança e adolescente. Minha família veraneava em Imbé-RS e eu era literalmente um peixe, vivia dentro d’água, não queria saber de ficar sentado na areia - aliás, aquela minha mente infanto-juvenil não entendia o porquê de tanta gente deitada em esteiras (sim, naquela época tinha esteira de palha), debaixo de todo aquele sol, sendo que tinha o mar logo ali. Naquele tempo para mim, praia era sinônimo de mar, e era isso.
Minha ligação com o mar foi ficando cada vez mais forte com o passar dos anos, não apenas para tomar banho, mas também para pescar. Assim foi indo até que, em 2004, a casa de praia da família foi vendida (coisa que até hoje não entendo por quê); e, em 2005, a família veraneou pela última vez, em casa alugada, e consequentemente foi naquele ano que tomei meu último banho de mar até então.
O tempo foi passando e sempre vinha a promessa de a família voltar a veranear junta, mas surgiram tantas outras prioridades que o assunto foi sendo esquecido. As prioridades mudaram inclusive para mim - eram tantos compromissos profissionais que eu mal tinha tempo para sequer pensar em passar um fim de semana na praia. Achei que nunca mais na vida colocaria sequer os pés no mar - quando eu saía com meus pais nos fins de semana, era sempre para visitar meus irmãos mais velhos em Osório-RS ou para ir à serra, e sempre indo e voltando nos domingos, por pouco tempo. Não sei se era em função da idade dos meus pais ou outro motivo, mas nunca mais ficamos nem um único fim de semana na praia.
Aí, avançando no tempo até o presente ano (2020), me vi com meus amigos da banda Instinto Roots lá na Praia do Rosa, em SC. A banda foi lá a trabalho, para fazer três shows, mas para isso foi necessária hospedagem - e o lugar escolhido foi um hostel num clima 100% natural e comunitário, a poucos metros do mar. Claro que a banda não foi lá apenas para tocar - era impossível estar hospedado num hostel na Praia do Rosa sem ir à praia, né? Ainda mais com aquela areia branquinha e aquela água limpinha, não?
Fomos à praia duas vezes, no sábado de manhã e no domingo à tarde. Na primeira vez, não sabendo que íamos à praia, saí andando de bermuda jeans e, quando me dei por conta, me vi impedido de entrar no mar... Ah não... E eu não ia entrar no mar de cueca, né? Seria ridículo... Mas ainda assim curti o momento, na areia mesmo, observando os movimentos, aproveitando o sol.
Já na segunda vez eu estava bem mais preparado, de calção, com protetor solar FPS 30 por boa parte do corpo (bom, não adiantou muito, no final das contas - peguei uma cor lá: vermelho). Dessa vez coloquei na cabeça que voltaria ao mar de qualquer jeito, pois era uma oportunidade única - ainda mais naquele mar ali da Praia do Rosa, pensa num luxo... E assim foi. Assim que chegamos à praia (após percorrermos uma imensa trilha cheia de subidas e descidas que me deixou de herança uma dor nas panturrilhas que ainda não passou...), minha primeira atitude já foi tirar a regata, a carteira, o relógio e o celular, jogando tudo dentro da sacola onde estava o tubo do protetor. Depois, meus pés foram indo, um, depois o outro, na direção do mar.
No exato momento em que botei os pés na beira do mar, esqueci da minha idade e de todos os problemas associados com a mesma. Uns dois minutos depois, me vi vários metros para dentro, lá na rebentação das ondas - porque gosto é de ondão, nada de ondinha careca - e, assim que as primeiras ondas vieram, eu estava pegando jacaré daqueles de sair nadando até o banco de areia, dando mortal de costas, testando minha capacidade pulmonar em mergulhos, enfim... Voltando à minha fase infanto-juvenil, dentro d’água salgada.
Eu tinha tomado meu último banho de mar em 2005 e, quinze anos depois, eu estava tomando banho de mar novamente, e da mesma forma como eu fazia nos velhos tempos. Até esqueci que tenho 36 anos - naquele momento eu tinha era uns 12 ou 13... Na hora de ir embora, saí do mar muito mais leve do que antes, por ter tirado o gasto de todo esse tempo na expectativa de voltar à praia, mas nunca podendo. E também saí de lá com aquela vontade de voltar - só estou esperando outra oportunidade de estar de novo na Praia do Rosa para mais um dia de jacarés e saltos mortais naquele mar... E para de novo voltar à juventude...

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