Um dente-de-leão



Sou como as sementes do dente-de-leão: me solto facilmente. Eu e tantos outros, que não se encaixam no que foi dito como "normal". Eu e todos esses tantos outros, que não se adaptam a qualquer situação, que preferem paz e quietude a barulho e excesso de estímulos. Esses que passam sérias dificuldades com coisas tão simples, como amar ao próximo, por exemplo, mas que, por outro lado, contribuíram demais para a ciência, as artes e muitas outras áreas. Esses capazes de mudar o mundo inteiro e mais um pouco, mas impedidos de tal feito, porque ora nem sabem disso, ora o mundo não os deixa fazê-lo. Em outras palavras: esses que, assim como eu, possuem algum grau de TEA, transtorno conhecido antes como Síndrome de Asperger.
Escrevo isso de uma forma muito aberta e sincera, pois sei que muitos, além de mim, também tem esse transtorno. Aliás, transtorno também presente em figuras como Isaac Newton, Albert Einstein, Stanley Kubrick, só para citar alguns exemplos. Portadores de TEA enxergam o mundo de uma forma totalmente diferente dos que não o possuem - e é apenas isso. Há quem diga que TEA/Síndrome de Asperger seja doença e que, como tal, deve ser curada. Mas definitivamente não é doença nenhuma, é só uma característica diferenciada, e para tal, não há cura, apenas convivência.
Recebi meu diagnóstico de portador de Síndrome de Asperger em 2008, aos quase 25 anos de idade. Quando o diagnóstico vem na infância, a coisa é bem mais fácil, mas no meu caso, com o diagnóstico já na fase adulta, tenho, desde então, enfrentado muitas batalhas pessoais. No começo, me imaginei condenado a uma vida desgraçada, sem amparo, sem ninguém para me entender; tanto que tive depressão na época. À medida em que os anos passaram, entendi melhor minha situação e, atualmente, considero o TEA um privilégio, o qual compartilho com muitas outras pessoas, que também enxergam o mundo de um jeito só seu.
Aqui vai meu conselho aos portadores de TEA/Asperger: EMPODEREM-SE. Vivam suas vidas e esqueçam julgamentos alheios. Mostrem ao mundo a que vocês vieram - e deixem a sociedade de queixo caído. Estamos juntos nessa barca, e vamos pôr um fim definitivo a todo e qualquer tipo de preconceito contra nós.

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