Amar: privilégio dos descolados?


Quando falamos de amor, logo pensamos em todo aquele jogo de conquista, de duas pessoas se conhecerem mutuamente, trocarem carinhos e tal, e, falando dessa forma, tudo parece super fácil. Mas, em se tratando de pessoas tímidas, o buraco é muito mais embaixo. E se forem homens tímidos com TEA então... Aí o negócio fica praticamente impossível.
Já falei inúmeras vezes aqui e em outros lugares, mas sempre volto a frisar: sou um cara tímido e introvertido (só lembrando que timidez e introversão não são sinônimos), talvez até demais. Conversando online, nem parece, mas conversando na vida real, a história é outra. Em casos mais extremos, fico tenso, olhando para os lados, só esperando o momento de a outra pessoa ir embora, para que eu possa voltar ao meu próprio mundo. Coisas do TEA que, aos olhos dos “normais”, não são fáceis de entender. Mas enfim, a vida não pára, e se há algo que sei que, por mais que eu acredite ter melhorado bastante nesse ponto, ainda preciso muito corrigir em mim, é esse medo de pessoas - uma vez superado esse medo, amar será algo bem mais natural, com certeza.
Nunca tive em mente me tornar alguém solitário e isolado do mundo, eu sempre quis que meu coração batesse mais forte por alguém, mas esse misto de medo, introversão e timidez me atrapalha muito nessas horas. Não, não falo dessa coisa cinematográfica hollywoodiana de “amor à primeira vista com cenas incríveis de beijos e abraços em locais paradisíacos cheios de efeitos especiais”; falo de um jeito muito mais simples, apenas fazer parte da vida de uma mulher, e descobrir que ela também fará parte da minha vida. Mas para quem, assim como eu, tem TEA, nada no mundo é simples - a vida torna-se terrivelmente complicada e exige superação de um sem-número de obstáculos, alguns quase intransponíveis, como esse de sair da armadura imaginária, afim de conseguir abrir-se para outro alguém.
Para mim, nas redes sociais é tranquilo eu ver uma foto de uma mulher qualquer, curtir a mesma e elogiá-la (veja bem: sempre com todo o respeito, nada de cantadas, de chamar de “gostosa” e tal, pois machismo é algo que definitivamente não está em mim). Na grande maioria dos casos, há retorno, com a curtida no comentário e um agradecimento. Mas na vida real é outra situação: muitas vezes me desperta aquela vontade de chegar perto de uma mulher e conversar com ela, sem segundas intenções, apenas no sentido de conhecê-la, de ela também me conhecer e, quem sabe assim, nascer aí uma história de amor recíproco e verdadeiro. Mas, na hora H, parece que algo no meu cérebro me diz “não a incomode”, enquanto meu coração me diz “vamos, coragem, vá lá e fale com ela”. Aí não sei o que fazer e fico congelado, sem ação... Resultado: lá se foi a chance de iniciar-se uma nova história. Cada um vai cumprir sua rotina diária e ninguém jamais se verá de novo. Dois ilustres desconhecidos que perderam a possibilidade de se tornarem um belo casal. E então, me vejo só novamente, aí o ciclo se repete.
Sendo assim, fico me perguntando se amar alguém é direito de todos ou privilégio apenas dos mais descolados, que “chegam chegando”, que fazem e acontecem, que extravasam tudo em público. Será que as pessoas tímidas e introvertidas têm direito ao amor? Será que eu, como homem tímido e introvertido que sou, ainda contando com o agravante do TEA, tenho direito de conhecer uma mulher e iniciar um relacionamento com ela? Ou será que minha vida futura se resumirá a me, myself and I? Seria clichê demais dizer que “o tempo dirá”, mas não é isso que quero, pois busco essa resposta o mais rápido possível. O tempo passou e até hoje não me disse nada. Meu cérebro pede calma, mas meu coração, que tem muito mais prioridade, pede pressa. Muita pressa.
Eu sempre quis viver uma vida a dois - é um velho sonho que vem desde minha adolescência. Mas esse misto de timidez, introversão e medo de pessoas não quer que isso aconteça. Alguém me diz como derrubar essa muralha e finalmente ficar livre para amar?

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