As aventuras solitárias de Eliseu - parte 2


Eu não tinha ideia de quando seria meu próximo passeio ao Capão do Corvo*. Eu só sabia que, cedo ou tarde, voltaria lá, pedalando, a fim de explorar os confins mais remotos do lugar. Acabou que hoje, por volta das 13h, peguei a bicicleta e lá me fui de novo.
Saí de casa, a caminho do viaduto da antiga Cautol (onde hoje fica a Guaibacar). Ao contrário do primeiro dia, quando precisei empurrar a bicicleta viaduto acima, hoje consegui pegar embalo e dei vencimento da subida - sinal de mais força nas pernas? Enfim.
O passeio ciclístico estava indo muito bem. Passei pela BR-116 (quer cruzamento mais perigoso que esse?!), pela Humaitá etc.. Mas então, assim que cheguei à Monte Castelo, a correia da bicicleta caiu. E lá fui eu ter que sujar minhas mãos de graxa... Passei o maior trabalho, uma vez que a correia ficou muito presa ali entre a roda dentada e o corpo da bicicleta. Mas consegui colocá-la de volta em seu devido lugar. Minhas mãos estavam completamente pretas e engorduradas - o que me fez desviar o caminho até um supermercado ali perto, apenas para poder usar o banheiro público, a fim de lavar bem as mãos com sabão líquido (e minhas mãos ainda seguem com um pouco de graxa, principalmente abaixo das unhas, mas não há de ser nada, pois em breve tomarei banho novamente). Feito isso, continuei a pedalar.
Fui indo até chegar perto do Hospital Nossa Senhora das Graças. Ali, atravessei a Santos Ferreira e segui o caminho pela rua logo à esquerda do hospital. Foi um belo trecho de descanso, no qual só fui embalado pela gravidade, já que se trata de uma longa descida. Só guiei a bicicleta e senti o vento soprando na cara.
Ao fim da descida, fui à esquerda, depois à direita, depois à esquerda novamente. Ali é a avenida onde fica a entrada principal do Capão do Corvo. Tentei pedalar o mais rápido e forte que pude, já que a entrada é um aclive muito acentuado, mas ainda assim não consegui subir. Tive que descer da bicicleta e levá-la nas mãos, subindo a pé.
Assim que entrei no Capão do Corvo, me vieram muitas lembranças da infância e da pré-adolescência. A família costumava muito frequentar aquele parque, e cansei de brincar na pracinha lá existente quando criança. Assim como cansei de fazer longas caminhadas naquelas pistas, já mais crescidinho. Mas também me veio à mente o fato de que existem muitos lugares lá dentro que pouquíssima gente conhece - e não duvido que ainda existam pontos completamente novos e inexplorados. Com isso na cabeça, comecei a pedalar novamente, para ver boa parte dos caminhos ali existentes.
Em geral, as pessoas entram no parque e vão direto às pistas de caminhada/corrida/pedalada. Mas eu quis fazer diferente: entrei num dos primeiros caminhos à direita que encontrei, apenas para ver onde dava. Fui indo por ali e descobri, ao final, que se tratava do caminho mais curto até a imensa árvore de Natal iluminada, montada ao lado oposto do Park Shopping. "Ah, só isso?!", pensei comigo. Mas segui pedalando para ver se achava mais alguma coisa.
Em dado momento, entrei num acesso que dava para dois caminhos. Um deles era o principal, que ia para uma das pistas de caminhada/corrida/pedalada. Mas o que mais me interessou foi o outro, que ia para algum lugar que até então eu não tinha nem ideia. Entrei por esse caminho alternativo e fui reto, sem saber onde isso chegaria. Ali também havia outro caminho à direita, mas continuei indo reto. Então, ao final, descobri um container e algo mais - imaginei se tratar de alguma instalação da prefeitura, e também imaginei ter acesso restrito aos funcionários. Sendo assim, dei meia volta e fui ver o que havia naquele outro caminho à direita.
Descobri muito, muito, muito verde. Árvores, plantas, insetos, aves, um chão todo forrado de folhas secas... Eu poderia tranquilamente chamar essa área de "o trecho mais verde de Canoas". Parei lá para tirar umas fotos - uma delas sendo essa da capa da nota. Apenas para dar uma ideia do quão verde é aquele lugar.
Retomei a pedalada e andei mais um pouco dentro do Capão do Corvo, sempre procurando caminhos alternativos. Ainda descobri mais umas coisas, mas já estava chegando a hora de voltar para casa. Que pena...
Saindo do Capão, percorri várias ruas do bairro, até chegar novamente ao viaduto da antiga Cautol. Subi o viaduto (dessa vez sem conseguir vencer a lomba...), cheguei ao outro lado e, ao invés de ir direto para casa, optei por seguir pela rua logo embaixo, rumo à Guilherme Schell. Dobrei à direita e fui andando perto da Ala 5 da FAB (em tempo: civis não podem entrar lá, logo, apenas passei perto mesmo). Fiquei dando mais umas voltas por ali, até subir novamente o viaduto - dessa vez voltando para casa.
Durante todo esse tempo pedalando (o que deve ter dado quase duas horas, se não mais), tive muitos pensamentos, principalmente sobre quais poderiam ser meus próximos destinos de bicicleta. Há uma miríade de possibilidades, várias aqui perto, outras mais longe. Mas, pensando bem, para quem anda sobre um veículo de tração humana de duas rodas, o que define "longe" e "perto"? Em algum momento devo buscar a resposta dessa pergunta - e de outras...

* N. do E.: o nome oficial desta área verde é Parque Municipal Getúlio Vargas. "Capão do Corvo" é o nome pelo qual o parque é mais conhecido, pois houve uma época em que lá havia um corvo. Não se sabe quanto a essa ave ainda estar viva, ou não.

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